A violência nas favelas do Rio de Janeiro, a briga de gangues rivais e as muitas vítimas inocentes que morrem todos os dias nesses lugares não é novidade para ninguém. Agora, o que mais nos surpreendeu nas últimas semanas foi o fato de soldados do exército que, teóricamente, deveriam proteger a população contra os criminosos, estarem envolvidos na morte covarde de três adolescentes no Morro da Providência.
No domingo, dia 15, foram encontrados os corpos em um aterro sanitário de David Wilson Florêncio, de 24 anos, Wellington Gonzaga, 19 e Marcos Paulo da Silva, 17. De acordo com depoimentos de testemunhas e de envolvidos, acredita-se que os jovens voltavam de carro de uma festa, na madrugada de sábado, e foram parados por uma patrulha militar que imaginou que eles poderiam ser bandidos. Nesse momento, David, Florêncio e Wellington se exaltaram, iniciando um bate boca com os militares, que os deteram.
Quando foram apresentados ao capitão Laerte Ferrari e liberados por ele, o comandante da patrulha, tenente Vinícius Ghidetti, levou-os para o Morro da Mineira, que é dominado por criminosos rivais. Ao entregar os três adolescentes ao chefe local era impossível que Ghidetti não tivesse o conhecimento de que eles, por morarem no Morro da Previdência, estavam correndo sérios riscos de perderem a vida. Eles foram torturados, levaram tiros e um deles ainda foi arrastado pela favela com os pés amarrados.
Tudo isso causou extrema indignação em toda a população, principalmente nos opositores do uso das Forças Armadas em situações de crise na segurança pública, iniciando uma série de debates sobre a permanência dela nas favelas do Rio. Entretanto, mais importante do que a discussão da necessidade ou não do exército nesses locais é que, apesar de os militares envolvidos já estarem identificados, os asssassinos de fato ainda não foram capturados e, por enquanto, ninguém sofreu as punições necessárias. Talvez agora, diante de um caso tão pertubardor, seja a hora certa de cobrarmos mais seriedade de nossos governantes no que se trata de segurança e proteção dos cidadãos. Afinal, se até mesmo aqueles que, em tese, deveriam nos proteger estão indo para o outro lado, daqui a pouco teremos duas classes de criminosos: os com e os sem farda. E, diante disso, estaremos cada vez mais longe de encontrarmos a solução para a violência no nosso país.