segunda-feira, junho 30, 2008
Arte do corpo
por Hellen Katherine


Desconstrução. Seria, talvez, essa a palavra chave pra quem quer entender e aprender a admirar a dança contemporânea. O objetivo é desconstruir, romper com o tradicional clássico. Ruptura, essa, que começou na década de 60, paralelo ao New Dance da Inglaterra, e hoje é considerada um estilo consolidado no mundo da dança. Não há limites, não há uma técnica, não há uma regra. O sucesso do contemporâneo baseia-se na busca pela pesquisa corporal e pela improvisação para transmitir sentimentos, idéias ou conceitos, através de posições e estruturas que vão além do visual, deixando a estética em segundo plano. A estrutura se dá pelo controle e descontrole do peso e das performances milimetricamente ensaiadas, definindo uma linguagem própria e única de movimento.
O nascimento desse tipo de espetáculo representa uma evolução fantástica e marcante dos padrões estéticos e proporciona um entendimento do corpo a partir da base da dança: o movimento. Apesar disso, não há uma resposta fechada para a pergunta que ajudaria a entender o contemporâneo e a pensar nesse fenômeno como algo definido: o que é a dança contemporânea? É rapidez? É choque? É pluralismo? Depende do contexto. O contemporâneo, como a própria palavra diz, é o agora. É o moderno, é o que acontece, é o hoje. É entendido pelo que é apresentado no momento, de forma individual, considerando o constante novo. Portanto, é preciso contextualização para falar do que é sempre atual. Por isso, para muitos especialistas, a dança contemporânea não é uma escola específica, mas um jeito de pensar a dança através da mistura de clássico, jazz, dança de rua e vanguarda, entre outros.
Esse sucesso firmou a dança contemporânea no cenário da dança mundial, incluindo o Brasil, onde vem crescendo em proporções consideráveis. Atualmente, ela é a base de diversas formas alternativas de dança, surgidas recentemente, como a fotodança, que mistura o movimento com a linguagem fotográfica, e a dança haicai, que uniu o contemporâneo com a filosofia hai-kai. Além disso, são inúmeros os grupos e núcleos de dança focados no aprimoramento da dança contemporânea, através da construção de novas linguagens e da busca de um maior alcance para o movimento moderno, a fim de quebrar as barreiras que impedem os curiosos de se aproximarem desse estilo.
O que faz da dança contemporânea tão apaixonante é a busca incessante pelo resgate da dança como arte pura, sem uma comparação forçada com o cinema, o teatro, literatura ou música. É claro que essas artes podem contribuir, e muito, mas a dança contemporânea faz reviver a noção de que o corpo em movimento é a própria arte e ele mesmo é capaz de desenhar uma história, uma composição musical ou uma mensagem, através de outro vocabulário.
Vivemos num mundo em constante processo de conquistas e descobertas, em todos os campos do saber e do viver. Seria muito redutor o pensamento de que a dança deve ser tratada como uma simples repetição mecânica de passos bem executados. Talvez não consigamos descobrir um conceito exato para a dança contemporânea, mas acredito que essa seja sua essência: a crença de que o ser humano pode mais e pode ir além, através do próprio corpo e de sua interação com este.


Postado por Hellen Katherine às 00:21

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